sexta-feira, 26 de junho de 2009

Calor

""O que voce pretende fazer agora que voce nao teme mais a verdade?" Perguntou ela, olhando para os olhos dele cheios de lagrimas. Estavam os dois parados, respirando fundo, procurando algo em que se agarrar. Algo que os fizesse se mover em direçao opostas, mas que com a força do tempo, apenas voltavam mais e mais outras vezes a encontrar os olhos, que mesmo focados em algo, continuavam perdidos.

"Nao sei. Apenas eu tenho certeza que eu nao quero mais isso para mim." Disse ele, com uma das lagrimas dela escorrendo pelo pequeno rosto branco entre os cabelos loiros lisos. Seria dificil para ele sair daquele lugar onde estava, depois de lutar tanto pelo que queria. Agora que tinha em suas maos, perdia. Nunca seria o suficiente para ele. E para ela, nunca seria da mesma forma. Ele apenas queria se sentir mais livre. E ela mais segura. Confiança naquele momento nao serviria para nada. Nao adiantaria ele segurar as maos leves dela com as pequenas unhas pintadas com um esmalte vermelho, perfeitos em seus detalhes minimos. Nao adiantaria mais qualquer tipo de carinho que ele fazia no rosto dela com o polegar.

"Por que fizemos isso com a gente?" Sussurrou ela, em meio as lagrimas. Lagrimas que faziam com que ele fechasse os olhos para segura-las. Ao fechar os olhos, ele se lembrava daquela noite. As duas garotas morenas sobre o seu colo. As maos delas passando pelo seu corpo moreno, que aos poucos ficava arrepiado. Ele jogava a cabeça para tras, seus olhos viravam a orbita. As duas morenas continuavam a passar as suas maos pelo corpo dele. Uma delas enquanto passava lentamente a mao na nuca dele e depois pelo pescoço, beijava seu rosto. A outra, mais baixa e um pouco menos bonita que a primeira, fazia caricias circulares no peito do rapaz. Ia perto de seus pequenos mamilos até seu abdomem, em um movimento de ir e voltar, segurando a surpresa, o momento crucial.

"Voce nao estava aqui." Respondeu ele ainda de olhos fechados e com a cabeça baixa. Ainda conseguia imaginar o que as garotas lhe fizeram. Pouco a pouco, ambas se aconchegavam em seus braços, a mais alta que usava um pequeno colar dourado que combinava com seus brincos de argola e grandes, continuava a beija-lo na nuca, os arrepios tomavam conta dele. Ele a segurava pela cintura, apertando as coxas grossas dela, levantando um pouco da sua saia. A respiraçao dela tomava um ar pesado, rapido. A mais baixa saiu do colo dele, agora em pé tirava sua blusa, ficando apenas de sutia. Um sutia preto rendado. Olhando para o corpo do rapaz, se ajoelha e começa a desabotoar as calças dele. Ele, em um impulso, apenas tira os sapatos e os lança longe.

"Eu achei que seria bom para nòs esse tempo." Ela resmungou ainda com as lagrimas nos olhos. Ele estava ainda de cabeça baixa com a camisa que ela lhe havia dado em seu aniversario. No pescoço dele, ainda permaneciam as marcas daquela noite no parque. A menor das garotas começa a passar a mao pela perna musculosa e com alguns pelos dele. Ia perto do joelho e voltava perto da cintura. Ela apenas conseguia se focar no que estava por baixo da cueca que o rapaz usava. Uma cueca azul marinho. A outra começava no calor do momento a levantar sua saia, deixando com que as maos grandes dele tivessem mais area para segurar. Ela começava a morder de leve a orelha dele, ele procurava o rosto dela, nao encontrava, mas mordia o pescoço da garota.

"Sim, entao eramos livres." Aumentando o tom de voz, disse ele voltando a olha-la nos olhos. Nao tinha que ser dito nada, ela ja sabia do que tinha ocorrido aquela noite. Ele mesmo contou para que nao acontecesse enganos. Por mais que se evitem, enganos sempre acontecem. Ele, mais do que ninguem, continuava a se enganar. Sentada no banco, a mais alta das duas começava a beija-lo. As duas linguas se encontravam. Ambas estavam quentes, salivavam por aquilo. Ele ainda permanecia de olhos fechados, sua respiraçao procurava o instinto dos animais. Com força, ele puxou a garota que o beijava contra seu colo, colocando suas maos na cintura nua dela, alisando a pele macia e jà arrepiada da garota. Enquanto a outra, o alisava nas pernas, segurando em seguida o que preenchia o azul marinho que ele vestia. Com força, com desejo, fazendo com que ele respirasse fundo e rapidamente.

"Voce foi o unico para mim." Voltou ela a chorar. Com um movimento delicado, as maos dele enxugavam as lagrimas que escorriam pelo seu rosto, fazendo com que ela virasse sua cara e fizesse da sua mao um encosto. As duas garotas permaneciam ali, uma sobreposta a outra. Uma ocupada em beija-lo e apertar os musculos do braço dele. A outra seguava em sua mao, deslisava aos poucos as pontas do dedos no calor dele. Ele abria os olhos. Em um impulso, colocava novamente suas calças, se despedia rapidamente das garotas, ajudava a mais baixa a procurar sua blusa. Com pedido de desculpas, disse que nao poderia fazer aquilo.

"Mas nao deveria. Eu nao sou quem voce pensa." Disse ele tirando a mao do rosto dela, fazendo com que ela abrisse os olhos lentamente. Ela sentia vergonha de ter que falar com ele novamente, em passar por cima da vontade de seus amigos, da sua familia. A maior das duas morenas o pegou pela mao, o abraçou com força. Ele nao retribuiu o abraço, ficou imovel com os olhos abertos. Ela deslisou suas maos pelas costas dele, puxou a camiseta dele para cima e o beijou desejosamente o seu pescoço. Ele segurou as maos dela, esquivou-se e começou a andar, sem dizer uma sò palavra.

"Eu sei quem voce é. Tenho certeza quem é o homem que eu amei." Lembrou ela, irrugando sua testa delicadamente, contraindo os labios. Ainda ela lembrou-se de quando ambos fugiram para uma outra cidade quando o pai dela morreu. De quando entregou para ele o presente de um ano de namoro, uma foto que tiraram nas ferias, com a praia e o com o grande sol vermelho com tons de laranja se pondo ao fundo. De quando ele a surpreendeu no dia do aniversario dela vestido de um personagem de desenho animado. De quando, pela primeira vez, a vontade dos dois se uniu em uma noite com pequenas velas acesas, em uma cama grande e com um perfume dos instintos.

"Nao somos mais o que eramos." Engolindo a seco, disse ele. As lagrimas de ambos começava a escorrer. Um pequeno sorriso de canto de boca esboçava no rosto de ambos o que perderam. Entre as maos, as bocas de deixam levar. Entre as maos, a febre acaba. Entre as maos dadas, nenhuma palavra seria dita. Apenas um abraço apertado, com os olhos abertos, para as lagrimas escorrerem. Ficariam ali, abraçados até quando se sentissem livres daquele calor. O mesmo calor que fez com que ele procurasse onde se aquecer. O mesmo calor que fez com que ela se aproximasse do seu colega de faculdade. Em um abraço, ambos se juntavam para se separem. Entre as maos, perdiam o que tanto desejavam mas que agora nao era possivel mais segurar. Nas lagrimas, caiam por terra o que em tanto tempo atras lutavam para conseguirem voar. Amarrados um ao outro, nao seriam livres. Naquele abraço, se desvinculava o que mais atormentava: o desejo de ser livre. Eram livres, mas estavam unidos ali. A partir de entao, cada um procuraria seu ceu, seu sol, seu calor."


(Texto produzido dia 26/06/2009)

domingo, 14 de junho de 2009

Mais do mesmo

"Talvez seria a primeira vez que ele a via. Pouco a pouco, com o comboio a chegar, o coraçao dele batia cada vez mais acelerado. Com o amigo do lado, comentava sobre qualquer assunto banal para esconder as maos suadas e o nervosismo que afloravam a sua pele.

A mesma pele que depois de algumas horas de conversa com ela se sentiria mais a vontade ao ser tocada. Os risos começavam a ser incontrolaveis. A sensaçao de ja a conhecer de algum lugar o fazia relaxar, pouco a pouco. As maos suadas se apertavam, lentamente, uma contra a outra, para procurar o que dizer, para segurar as pequenas besteiras que dizia. Na realidade, ele começava a entender que quanto mais ela se divertia com ele, mais ele ficava a espera de algum toque, de algum contato fisico para que pudesse colocar a cabeça para baixo e depois levantar o olhar lentamente e ve-la se recompor do riso largo e bonito.

O mesmo riso que ao longo do tempo o faria estremecer, deixar para tras tudo que ja havia passado. O passado aos pobres e errantes pertencia. Naquele momento, eram ricos e estavam fixos ali. Um de frente para o outro sem saber o que fariam, que coisa comeriam. Os sorrisos nos olhos demonstravam o que ali acontecia. Nao era preciso mais nenhum gesto, nenhuma palavra, nenhuma forma de expressao velha ou inusitada. Era preciso apenas aquele olhar, aquela forma de se expressar, aquele olho no olho que apenas o quarto, com a lampada de iluminaçao amarela, moveis, cadeiras e estantes de cores afins, poderia entender. Nada deveria ser entendido a partir daquele instante. Os arrepios, o calor, o frio na barriga, o coraçao disparado seriam reflexos de apenas olhares que procuravam um porto seguro e de poucos toques na pele branca, macia, com um cheiro levemente adocicado como o sabor das pequenas frutas do bosque encontradas na primavera nos tropicos.

O mesmo sabor que quando ela pediu para que ele fizesse companhia na noite, ele recusou. As frutas do bosque possuem um aroma doce, um gosto leve e um leve toque acido. Como se as frutas soubessem que por serem tao desejadas, nao poderiam ser ingeridas por serem acidas. Nao amargas. Com a mesma rapidez que o acido da polpa entra em contato com a lingua viva, ele negava o convite. A cada "nao" pronunciado, seu coraçao denunciava uma taquicardia, leve e fulminante. Ela se despediu, disse que iria dormir. Ele apenas começou a arrumar suas coisas, pensando novamente em que parte do "sim" seria mais dificil de dizer.

O mesmo "sim" que as pessoas utilizam com tanta falta de vontade e assumindo culpas que nao sao delas. Pelo menos, nao mais. Ela se deitou e o chamou para se aproximar com seu livro de desorientaçao. Ela se deitou e ele apenas se sentou perto dela, na cabeceira da cama. Querendo ler o que ele escrevia, ela colocou seu rosto sobre as pernas dele. Para ele foi inevitavel a abraçar e fazer de seu braço um travesseiro um tanto quanto incomodo. Mas ela parecia bem naquele braço, os risos ainda continuavam, escondendo a forte vontade que ele sentia de abraça-la e te-la definitivamente em seus dois braços. Um seria pouco para o que ele sentia. As palavras soltas, o coraçao que saltava, os arrepios que lhe gelavam e aqueciam.

Os mesmo arrepios que ele sentiu quando se deitou ao seu lado na cama depois de muito renegar seus desejos. Os braços dela pareciam perfeitos naquele instante. Era o que ele queria sentir. Mas eram poucos momentos em que ambos sentiam o calor dos corpos. Ela se virou na cama, ele a encarou. Os olhos falavam palavras que nao existiam. Eles se aproximavam pouco a pouco, a respiraçao se tornava leve e pausada. Ela salivava, ele lambia seus proprios labios pequenos. Um sorriso envergonhado interrompeu a aproximaçao.

O mesmo sorriso que as pessoas continuam a esconder no dia a dia. Escondem por se sentirem mais vulneraveis a erros. Erros todos cometem, mas nunca se deve temer viver, sonhar por causa de um sorriso que ja nao se parece tao doce como era. Os milagres acontecem em pequenos gestos, em pequenas esperanças, em pequenas surpresas que nòs deixamos entrar na nossa vida. Os milagres sao como sorrisos singelos. Apenas acontecem se estamos abertos para que aconteçam. Ele segurou a mao dela, a olhou novamente nos olhos, as testas se encostaram, as respiraçoes se tornaram uma so. Os olhos serviriam apenas para que a escuridao trouxesse claridade. Que aos poucos, o instinto e vontade procurassem o encontro dos labios.

Os mesmos labios que se perguntavam para o espelho se ele estaria bonito hoje. Cada um sabe o que vale. Se alguem ainda nao encontrou a pessoa certa, de alguma forma para superar o peso, os labios serviam para questionar, conversar. O beijo seria apenas uma forma de selar um acordo entre ambas as partes. Estariam dizendo que para mim, voce me agrada. O comboio ja estava a partir. O coraçao dele estava mais leve, mais calmo. Apenas batia mais forte por saber que toda aquela espera, ainda deveria esperar. A pele, o riso, o sabor, o "sim", os arrepios, o sorriso, os labios. Todos poderiam ser os mesmos, mas naquela hora ele sò desejava mais um. A saudade apenas que ficava. E essa era a mesma de dias."

(Texto produzido dia 13/06/2009)