domingo, 11 de janeiro de 2009

Jardim de erros

"O que você faria se em uma tarde de chuva não encontrasse forças para olhar para o céu e sentir os pingos gelados e frescos escorrerem pelos pequenos vales do rosto? O que você faria se em uma noite tão quente você se cobrisse com seu cobertor mais quente, com medo dos seus sonhos?

Cada palavra, cada sonho, cada verdade escondida por detrás dos olhos camuflam a essência de cada pesadelo, de cada medo e, principalmente, de cada frase mal formulada que culminou em um erro. Todos nós erramos diariamente.

Erramos quando encontramos todos os clichês diante de uma situação complicada. Quando tudo que está a sua volta morre aos poucos e você apenas encontra a saída após a pequena pausa para o almoço, digerindo. Erramos principalmente quando não encontramos nosso caminho, quando somos forçados pela rapidez que a vida passa a deixar para trás o que realmente queríamos agarrar e lutar. Erramos, assim, por lutar muito e agarrar demais.

Cada circunstância, cada conseqüência, cada dificuldade. Todos erram por tentar procurar palavras para desenhar na parece branca da alma os pequenos vasos de flores quebrados. Um a um, racham ao tocar o chão duro, frio, sem vida. As flores de cores vivas, amarelo, vermelho, com pétalas delicadas e hastes verdes que indicam a colheita madura não podem sentir o chão. O chão já os pertenceu. Elas vieram dali, cresceram, desenvolveram e desabrocharam graças àquela imensidão inerte. Agora, o chão não as pertence mais.

Dessa forma, se a cada caminho que escolhemos, tentássemos voltar ao que éramos, ou ao que precisaríamos para sobreviver e enfrentar nossos medos, possivelmente estaríamos indo contra a força natural da vida em se transformar. As flores foram colhidas do pequeno jardim em que todas pareciam iguais e ao fim do seu percurso, quando o vaso finalmente quebra, uma a uma torna-se especial em sua pequena simplicidade.

As ações das pessoas não podem ser restauradas. Os sentimentos convertidos e palavras não podem ser recolhidas e não-ditas. O curso natural mostra-se impotente quando alguém decide-se ir contra tudo para realizar seu desejo. As poucas verdades que restam se tornam artificiais, preparadas para qualquer ação, já que o diálogo permanece pronto na mente.

Será que você consegue enxergar isso? Como pode ser dito que se vê, mas fingir que não e ainda sentir medo de poder reconhecer. Uma vez me disseram que o medo mais assustador do homem é conseguir enxergar o que ele poderia ter sido, o que ele foi ou o que ele nunca poderia ser. Talvez pior do que isso é temer o que ele sente. Ter medo do que há dentro de você torna-o fraco, sem salvação por ter apenas um caminho para escolher: a autopiedade.

O suspiro cansado depois de uma tarde comum mostra a flagelação. Amar demais é um erro. Amar pouco é dificultar-se. Amar é uma incógnita. O coração bate agora fora do meu corpo, sem o sangue vermelho e quente para me estremecer diante de rostos comuns. O frio que faz aqui dentro permanece preso por uma prisão. Seja qual for a temperatura externa ou provocada em mim, meu rosto permanecerá mudo. Os olhos fixos e a boca sem resposta.

O que cada pessoa sente? O que eu sentiria se soubesse que tenho algumas horas para decidir o caminho que tenho que tomar? Se quando olhasse para o corredor, de um lado visse o rosto que a mim parecia familiar e de outro uma grande paisagem com sombras desconhecidas ao fundo. O que fazer?

Errei em decidir um caminho. Se escolhesse o outro erraria também. Sempre erramos. Se cometermos um acerto com alguém, podemos estar errando com outrem. Ninguém nunca acertará. E eu nem quero. Teria que ser exatamente esse e não pretendo fingir mais. Se eu dissesse que as lágrimas que escorreram do seu rosto foram totalmente ignoradas, com certeza eu olharia para mim na chuva e repararia melhor nas gotas que escorrem pela minha testa, chegam aos meus olhos e se confundem pouco a pouco com o salgado da boca.

Deixem ir. Deixe com que ela vá. Porém acredite que não está abrindo mão de uma vida, de uma oportunidade. Acredite que aquele pode ser um novo fôlego que tomará após a pequena chuva que escorrerá pela sua pele. Se você conseguir sentir que houve alguma nuvem ou neblina em meio ao falso sol que brilhava na sua vida, você está pronto para mudar. Para sentir. Para conseguir agir e fazer algo por você. Para transformar-se em uma flor colhida que fora do jardim, se torna especial e única.

Você pode sentir isso? O que você faria? O que você vai colher no jardim? Em que você acredita: na grande força natural que faz as flores crescerem e se tornarem um simples jardim ou na pequena vontade que faz cada um único e especial pelo que há dentro das pétalas vermelhas que desabrocham e morrem lentamente?"

(Texto produzido em 11/01/2009)