"Estou cansado de chorar.
Cansado de derramar essas lágrimas que ninguém pode ver. A dor que apenas eu sinto, o amor que só eu posso usufruir e as lágrimas que salgam a minha boca e que me fazem sentir menor do que eu poderia ser.
Estou cansado de ouvir que tudo ficará bem quando eu me sentir bem. Cansado de ouvir palavras de amor que não vem do coração. Meu coração estava congelado, não queimava mais, nem sentia dor. Hoje, não sei o que ele deseja: se prefere bater por alguém que me vê, mas não me enxerga; ou se ele prefere se esconder atrás das máscaras que visto todo dia quando acordo.
Máscaras sorridentes, irônicas e cheias de vida, como eu deveria ser. Eu até poderia tentar. Mas falta-me vontade de olhar para tudo e conseguir tirar alguma coisa positiva desse momento. Se momentos felizes existem, eu apenas passei por um ou outro. Hoje sei que o sol que bate na minha janela é apenas o anúncio de que ela ainda não chegou. Três da manhã, quatro, cinco, seis... Quando o sol ilumina ao longe e meu coração despedaçado permanece no chão, sinto que nem o calor dela pode me esquentar com o frio que vem de dentro.
Tenho medo de dormir aqui. Tenho medo de olhar para o lado e ver de novo tudo vazio. Tenho medo do interfone não tocar e eu esperar eternamente alguém que não vai voltar mais para mim. Agora ela é de outro. Pode ser uma vez apenas, mas nesse instante nem ao meu lado ela permanece.
Nunca tinha sentido uma dor tão profunda como a da solidão. A solidão dói! Dói quando você sente que está sozinho. Dói quando debaixo das cobertas naquele dia frio, a única coisa que te esquenta são as lágrimas que caem dos olhos. Dói quando você fala e a pessoa não escuta. Dói quando você se sente traído sem ter nenhum relacionamento. Dói ser sozinho.
Única coisa que consigo imaginar quando chego em casa é se ela me faria uma surpresa. Me recepcionasse com um abraço quente e apertado, me dissesse baixinho que estava feliz novamente por estar aqui. E eu choraria de novo. Porque eu estaria feliz de, pelo menos, sentir aquele calor perto de mim. Não me importa mais se ela apenas me vê e não me enxerga. O que me importa é que pelo menos aqui ela pode estar. E sempre esteve. Para mim, é o lugar que eu achava certo.
Mas eu estou errado. Na despedida, pude sentir que eu errava cegamente de olhos abertos. Errava por insistir no meu erro. No mesmo erro que me faz querer gritar. Gritar sozinho. Chorar. Olhar para baixo e conseguir pensar em alguma coisa que não seja aquela noite que eu não tiro da minha mente. Olhar para baixo e ver um jardim que eu mesmo plantei. Olhar para baixo, procurar seu rosto, olhar nos seus olhos e não ter vergonha. Vergonha do que sinto. Me penalizar por estar do lado errado.
Quando jogamos a moeda, para ela caiu cara. Para mim, caiu coração. Não consigo achar a moeda para jogar novamente. Devo tê-la vendido para alguém que passou e que eu tentei entregar meu coração.
Ainda posso sentir o medo me corroendo os dedos. Como o frio. Que começa quando estou deitado, lá nos dedos dos pés, sobe pela canela, me faz envergar para trás quando chega na espinha, me arrepiando inteiro, fazendo os braços tremerem e os pêlos do braço se levantarem. Chega à cabeça, primeiro na nuca como um sopro gelado nas costas, depois na boca que me faz tremer e então nos olhos que me faz chorar.
Eu não posso acreditar que meu coração está partido de novo. Sem motivos. Queria correr pela rua, andar sem ter para onde ir, encontrar as pessoas que eu amo, abraçar tão forte, sentir aquela fortaleza naquele instante. Sem ter medo de chorar, sem ter medo de parecer imbecil. Menor do que já sou. Pequeno.
Eu estou perdendo minha razão. Estou perdendo tudo que eu necessitava. Não consigo pensar. Apenas sinto que eu sou errado. Apenas sinto meu estômago doendo, meu coração batendo rapidamente, minhas mãos tremendo e eu escondendo meu olhos cheios de lágrimas. Não vou conseguir olhar para os olhos das pessoas. Vou olhar para baixo e continuar a procurar o jardim que deveria ter plantado enquanto permanecia no tempo de estiagem sem ela.
Não consigo entender uma só lembrança. As cenas na minha cabeça se embaralham. Ela deitada do meu lado, sorrindo. Quando vejo, tudo está vazio, não há mais nada aqui. Eu fico na janela pensando o que falar para ela, o que ela deveria saber, sendo que ela já sabe de tudo. Fico em silêncio, de costas, com os olhos cheios de lágrimas. Ela permanece na porta, encostada me olhando da forma que eu adoro. Me pergunta o que está acontecendo e eu respondo olhando para o jardim debaixo dos meus pés que não há nada. Ela fecha a porta, eu fixo meu olhar para o apartamento vizinho onde um casal se abraça feliz. E se beijam. Não há nada, e saio pela porta chorando. No caminho de volta, penso em tudo, mas me expresso pouco. Apenas sei dizer o que sei sentir. Falo e sei erroneamente.
Não quero ser mais a vítima e nem indicar um vilão. Não há mocinhos e bandidos. Não há eu e ela.
Dessa vez quero ser diferente. Quero esquecer esses sintomas que me machucam, que me fazem chorar. Quero tentar novamente um recomeço para mim. Todos já tiveram sua chance e a minha eu perdi com pessoas erradas. Não quero mais sentar na cama, sentir ainda ela aqui e começar a chorar. Levar comigo durante todo o dia aquela agonia que em um simples sinal de fraqueza, faz escorrer uma lágrima dos meus olhos. Não quero que as pessoas perguntem como eu estou e eu desabe nos ombros delas. Não quero que ninguém perceba o quanto sou fraco.
O meu coração que estava no chão, eu colocarei novamente aqui dentro. Ele pode continuar a bater por ela. Não me importo. E espero que ela não se importe. Apenas espero que ela não demore mais para voltar. Que eu não passe a noite novamente em claro pensando em coisas que eu abomino. Repulsa. Infelizmente o que acontece em Vegas, permanece
Sentimentos que eu gostaria de tirar do meu peito e fazer com que eles não escorram dos meus olhos como lágrimas de dor. A dor que apenas eu posso sentir...
Eu devo tranqüilizá-la quanto a tudo. Estou errado, mas vou tentar acertar. Não vou tentar acertar em ser o cara certo para ela. Muito menos fazer com que ela não apenas me veja, mas me enxergue. Não nadarei mais contra a corrente. Deixarei a água bater nas minhas costas e me levar para algum lugar que não gostaria de estar.
Por enquanto eu choro. Todos os dias, logo cedo, sinto o frio na barriga ao imaginar que tudo está para recomeçar. Todos os dias penso que seria mais um dia sem ela. Todos os dias espero até às duas da tarde para vê-la na minha varanda me olhando e me acalmando. A gente feliz novamente. E isso me faz chorar. Saber que eu poderia ser feliz, mas não sou. Ainda não. Choro por saber que naquela noite, ela demorou um pouco a mais, pois tinha que se despedir de uma forma especial de outra pessoa. E eu fiquei esperando. Choro por lembrar da outra noite em que eu voltei desestruturado sem ninguém para me ajudar. Sem ninguém para me explicar porque tudo isso acontece comigo. Choro por saber que ela nunca será minha. E sim de outras pessoas.
Sim, eu choro. Sou homem e choro por um amor que eu não tenho mais direito. Nunca tive.
“Mas não se preocupe, você não me verá chorar mais!”"